Pode falar-se de boa saúde mental em van Gogh que por toda a sua vida só assou uma das mãos e quanto ao resto não fez mais do que cortar, uma vez, a orelha esquerda
num mundo que todos os dias come vagina cozida com molho verde, ou sexo de recém nascido flagelado e enraivado
mal o apanha à saída do sexo materno.
E não se trata de imagem, isto, mas de um facto quotidianamente repetido e cultivado em abundância pela terra inteira.
Por isso, mais delirante nos pareça tal afirmação, a vida presente se mantém na velha atmosfera de estupro, anarquia, desordem, delírio, desregramento, loucura crônica, inércia burguesa, anomalia psíquica (porque não foi o homem mas o mundo que se transformou num anormal), de assumida desonestidade e de hipocrisia insigne, porcalhão desprezo por tudo quanto exibe raça,
reivindicação de uma ordem baseada por inteiro no cumprimento de uma injustiça primitiva,
de crime organizado, enfim.
este é o início de um livro do Artaud: "Van Gogh o suicidado da Sociedade"